quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Profissão - A escolha



          A todo o momento, todos os dias de nossa vida, em face de circunstâncias, imposições, questionamentos, somos induzidos a escolher caminhos por cujas consequências e responsabilidades responderemos. Escolhas, nós as fazemos quotidianamente, desde as mais simplistas, como o nome de um filho, a opção por um candidato, até as mais sutis, de caráter intimista, existencial e metafísico. Descobrir a profissão é um dos grandes desafios do cidadão que busca o aprimoramento e a realização pessoal. Para isto, tanto a vida como o destino podem pregar-lhe uma série de armadilhas.
          Não precisa ser expert para indicar uma trajetória óbvia para o sucesso: estudar! O estudo ainda é o mágico itinerário que abre portas e limites para o triunfo. Sem dúvida, os bancos escolares nivelam as realidades mais heterogêneas e díspares. O conhecimento acadêmico enseja oportunidades e mercados, a despeito da excessiva disputa e concorrência.
          Não procede, porém, o argumento de que o estudo não seja essencial, citando o exemplo um ex-presidente da República. Isto é um engodo. Não vamos aqui valorizar, superestimar a exceção, que esta é obra do acaso. Deixemo-la de lado por ser um desestímulo aos que creditam o sucesso à força de vontade, abnegação e muito trabalho.
          Hoje, com as divisões, subdivisões e rumos da tecnologia, com profissões muito parecidas umas com as outras, com detalhes e peculiaridades, há um labirinto diante dos que buscam uma alternativa profissional. Às vezes, o cidadão, depois de voltas e reviravoltas, depara-se com um dilema nada fácil de digerir e gerenciar. Constata que, após anos de estudos, investindo as parcas economias de seus pais, varando madrugadas, preparando-se para pesquisar o melhor trabalho, para realizar a melhor prova, eis que chega à desoladora conclusão de que, na verdade, não era a carreira almejada. Há um choque e um conflito interior!
          Mas, perseverante, continua. Pacientemente recomeça seu calvário o que não garante que vá realizar seus verdadeiros propósitos e sonhos. E lá se foram horas, dias, estações de de angústia, exaurindo suas forças em prol da grande conquista que malograda, nunca chega. Há mesmo pessoas que gastam a vida perseguindo afinidades. E morrem sem jamais conseguir o intento. Muito triste!
          Há fatores que desestimulam o entusiasmo pela opção profissional, mormente num mundo capitalista e de disputas acirradas. Às profissões nem sempre lhes é dado o devido valor. Um flanelinha, v.g. (sem qualquer referência pejorativa), pode auferir uma renda superior à de um universitário, apenas por um simples: “vou dar uma olhadinha no seu carro, doutor!...”.
          Diante do quadro, ou você concorda, ou segue seu trajeto com a pulga atrás da orelha, pois não sabe o que pode acontecer com seu carro. Um simples risco na lataria lhe causará sérios danos em seu patrimônio. Refém de um fato inevitável você faz a primeira opção e segue seu roteiro tranquilamente. Em retornando, tira do bolso dois ou cinco reais e, pronto. O crime compensou!
          Nada mal para quem não investiu um centavo em sua formação, vive na informalidade, sequer paga impostos, ou seja, consegue uma economia razoável capaz de gerir sua vida, criar seus filhos e sobreviver... Na relação custo/benefício há um total desestímulo para quem passou o tempo mergulhado em pesquisas e folheando livros.
          Então, pergunto, qual o prêmio, para quem frequenta uma faculdade, faz estágios, mestrado, doutorado, se atualiza, se recicla, não para de estudar, e ostenta uma galeria de belos diplomas e molduras? De que vale tal sacrifício que sequer assegura um salário confortável para sobrevivier com dignidade? É apenas uma reflexão...
          Somos um país de privilégios, imediatismos e contradições. Impotentes, diante de algo que foge ao nosso controle, cedemos, acomodamo-nos e tocamos a vida. Com o tempo, aceitamos que “isto é cultural”, eufemismo para encobrir situações esdrúxulas, contrastes gritantes de uma cultura que privilegia o jeitinho ao invés de valorizar competência e méritos adquiridos.

Luno Volpato, escritor, poeta, membro da Academia Campinense de Letras e mestre em Língua Portuguesa. Publicado no Correio Popular, edição de 14/10/2012.